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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Gentileza não é educação

Conhecimento, saber, domínio da ciência e aprender após refletir. Isso é educação.

Um pedido de por favor, um bom dia, o respeito pelo outro no olhar de desculpas de um esbarrão. Isso é gentileza.

Não são iguais, mas são diretamente relacionados. E é de ambos que eu tenho sentido falta no cotidiano paulistano.

Caos subterrâneo

Um problema na região da estação Liberdade causou lentidão dos trens da linha azul e maior tempo de parada nas estações. Foi assim que a assessoria de imprensa do metrô de São Paulo explicou a superlotação nas estações na manhã desta quinta-feira.

A falha aconteceu por volta das 7h e, ainda segundo a assessoria, antes das 7h10 já estava normalizada. A falha foi consertada, o problema subterrâneo, não.

Imaginem que um atraso de dez minutos afeta toda a linha - quando um trem para, o outro não pode seguir. O metrô possui trens a cada 3 minutos em horário de pico - logo, foram 3 trens. Em dias normais, pessoas aguardam na plataforma porque trens estão lotados, não conseguem embarcar. O metrô já é cheio. Multiplicar toda essa gente por três e adicionar vagarosidade em túneis escuros e sem ventilação é loucura.

Como eu publiquei no meu twitter, vi gente chorando, desmaiando, sendo pisoteada. Um casal de cegos não conseguiu descer na estação Luz - por causa da integração com trens da CPTM, teve catracas bloqueadas para impedir as pessoas de chegarem à plataforma do metrô, que não comportava mais ninguém.

Não consegui avisar minha chefe, as linhas de celular estavam congestionadas. A moça ao meu lado recebia mensagens da amiga dizendo que o chefe estava impaciente pelo seu atraso. Pobre coitada, não conseguiu responder de três celulares emprestados, porque o dela estava sem crédito e a mensagem "rede ocupada" insistia em aparecer na minitela mobile. Por ironia, ela era operadora de telemarketing... será que vai ter o salário do mês reduzido por causa disso?

A linha vermelha e verde foram afetadas - todas as linhas atualmente se interligam na região central, próxima de onde houve a falha. Faltam linhas, falta vazão a milhões de pessoas que atravessam a cidade para trabalhar: consequência do crescimento desornado da metrópole.

Para completar, um recipiente deixado na ponte do Limão, na zona norte da cidade, despertou o alerta dos bombeiros pela possibilidade de bomba (quem é que explodiria a ponte do Limão, meu Deus???).

Vagaroso.

Ok, entendo que uma falha acontece, acidentes acontecem, não há horário para isso. Mas... acho que é um excelente motivo para repensarmos na falta de alternativas de transporte público em SP. Já é hora. Reflitam bastante sobre isso e sobre outros problemas da cidade, muito mesmo, e façam alguma coisa relevante ano que vem, por gentileza.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Enigma - ou o retorno do blog mais uma vez

Escrevo esta postagem dentro do carro. Sufocada pelo frio artificial das janelas fechadas, que é mais cortante que o frio lá de fora.

A verdade é que às vezes me esqueço de mim. Faço planos, sonhos, mas me esqueço de mim. E, sem mim, nada que é meu tem vida: nem meus sonhos, nem meus planos.

A janela embaçada esconde meu rosto na neblina. Na metrópole onde todos são invisíveis, não faz mal se esconder. Quando você se esconde, não quer ser encontrado, é como se fosse mais fácil ganhar olhares de desconhecidos.

As pessoas perdem o hábito de se olharem nos olhos. É quase uma afronta fitar o desconhecido que divide espaço com você no transporte público. Mas, no carro, tudo bem. É um pedacinho da privacidade que você divide com os outros no trânsito: um farol fechado e aquele segundo que você coçava o nariz fica marcado na memória breve do motorista ao lado. Que ri.

Esqueci-me de mim. Deixei muita coisa de lado e passei a viver a vida que eu sempre condenei nesta cidade - a vida por acidente, que é vivida e não pensada. Você simplesmente deixa tudo passar, tudo acontecer, e quando percebe, o tempo passou.

Após um final de semana de reflexões, resolvi acordar. Vou me esconder mais um pouco para trabalhar a multidão que mora em mim... tentar olhar os personagens urbanos paulistanos com o olhar de alguém que se esconde, mas não de mais de si mesma.


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Voltei.