A desocupação da Cracolândia, como é conhecida a região central de São Paulo conhecida por abrigar centenas de usuários de crack, é uma ação conjunta do governo do Estado e da Polícia Militar. Ontem, a
Rota, grupo tático especial do órgão policial, entrou na ação.
A ação é parte do projeto
Nova Luz, que revitaliza uma importante área cultural paulistana tomada pela marginalidade, dependência química e crime organizado. Nela, encontram-se pontos turísticos como a
Estação da Luz, a
Estação Júlio Prestes e a
Sala São Paulo – principal palco de concertos, óperas e apresentações de música erudita da cidade. Tudo que não combina com marginalidade, dependência química e crime organizado.
As imagens do lugar, para quem não conhece, são chocantes. Caminhar por ali é semelhante ao cenário de seriados da moda, como
The Walking Dead. Dependentes químicos da droga vagam a esmo vestindo trapos, com olhar vidrado. Muitos deles lavam vidros de carros no farol como maneira de abocanhar alguma grana para comprar pedras.
Imagem 1, da Folha de São Paulo, retrata uma ação policial na segunda-feira (9), na rua Aurora x rua Guaianases. Imagem 2, do Estadão, retrata o local em um dia qualquer (2011)
A ação, dividida em três fases, promete o policiamento, assistência social e manutenção da área. Tem sido, entretanto, frustrada. Não é possível simplificar algo tão complexo e profundo na nossa sociedade – o vício – em três passos, como um manual para o sucesso.
Um, dois, três e pronto, o problema está resolvido.
Não há estrutura para assistência social suficiente para atender a tanta gente envolvida com o vício do crack. O que muitas pessoas não entendem, especialmente aquelas que expressam opiniões inflamadas
[tem que descer o cacete todos estes vagabundos mesmo!], é a complexidade química que o vício desta droga causa no sistema nervoso do indivíduo ao ponto de ele largar tudo para viver uma vida de zumbi. Vagando nas esquinas, a condições precárias, tudo para ter o prazer momentâneo que o crack proporciona. Se a pessoa se submete a estas condições, não vai sair disso de maneira tão simples, em três passos, como propõe a ação da Cracolândia.
Cracolândia, em letras maiúsculas, porque ela expressa o problema da sociedade e é um retrato da disparidade de São Paulo. O espaço convive com o problema social ao lado da “alta sociedade” que frequenta os pontos da região. O real problema é que o problema social é de saúde, e é tão grande que
tomou o espaço. Não deveria ser este o sinal de alerta que prova que São Paulo está com um caso tão grave, que não será eliminado de uma hora para outra? Esta alta sociedade que também sofre de outra coisa grave – a cegueira social para a disparidade que está a sua frente, ali,
escancarada.
Moradores de Higienópolis, bairro vizinho à Cracolândia, se queixaram de viciados que “subiram” e tomaram as ruas nobres e arborizadas, expulsos de seu habitat natural. Temem a violência. Estavam acostumados com a cegueira social da
vizinhança perfeita, uma ilha de riqueza no centro da cidade.
É hora de abrir os olhos.
Mais assustador que a vida de zumbi é ler os comentários de "pessoas comuns" que pregam a eliminação total dos
crackeiros.
Para ler mais:
Reportagens da Folha de São Paulo
aqui.
E do Estadão
aqui,
aqui,
aqui.
________________________________
E vamos combinar - droga não é problema de pobre.
Classe alta usa cocaína, mais refinada e de "mais qualidade", se é que podemos assim dizer,
que o crack - pedras de resíduos provenientes do refino da cocaína.
Mais barato e, claro, para os pobres a pior "qualidade" das drogas