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terça-feira, 6 de março de 2012

Sem caminhões na Marginal, sem gasolina nos postos

A gestão Kassab mostrou mais uma vez dar preferência ao transporte público individual em detrimento do desenvolvimento de soluções mais complexas e inteligentes para o difícil problema de mobilidade urbana na capital paulista. Nesta segunda-feira, 5, os caminhões foram proibidos de circular na Marginal Tietê nos dias úteis entre as 5h e 9h, e das 17h às 22h. Aos sábados, a proibição acontece apenas no período da manhã, das 10h às 14h.

A intenção é aumentar o fluxo de carros e a fluidez do trânsito. O problema começou quando os caminhoneiros decidiram interromper a entrega de combustíveis a cerca de 2 mil postos de abastecimento na cidade, em protesto ás nove horas de impedimento.

Foto: Jorge Araújo/Folhapress

A prova de que a medida municipal não teve o objetivo traçado foram os 159 km de congestionamento às 11h desta terça, 6, recorde da cidade no ano, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Em meio às reclamações das vias paralisadas, algumas queixas de motoristas que já sentiam o aumento das filas dos postos de gasolina ou notavam as bombas de etanol, gasolina e álcool secas em alguns estabelecimentos.

Não consigo entender qual a lógica da gestão paulistana ao proibir caminhões na marginal. Teoricamente, veículos pesados atrapalham muito mais o trânsito em vias estreitas e de baixa velocidade, em bairros, não em vias expressas com mais de três faixas. Pois caminhões têm velocidade reduzida, dificultam ultrapassagens, estacionam em lugares movimentados para abastecer lojistas, entregando ou recebendo mercadorias. Claro, não podemos exterminá-los, é o trabalho de seus condutores é necessário à cidade como um todo. Caminhão na Marginal não atrapalha... faz parte do [da falta de] planejamento urbano da cidade, já que tanto a Tietê como a Pinheiros são estratégicas para chegar a qualquer região da cidade.

O carro, cada vez menos utilizado para caronas e transporte de famílias, tornou-se veículos de um motorista em locomoção ao trabalho - especialmente nos horários de restrição. O espaço é ocupado apenas por um corpo à frente do volante.

Em 2009, a mesma gestão proibiu a circulação de ônibus fretados em 70 metros quadrados da cidade. A Zona Máxima de Restrição à Circulação de Fretados (ZMRF) engloba áreas carentes de transporte público de massa suficientes como abundância de linhas de trens e metrô, entre elas, a região da Berrini, Moema, Morumbi, entre outras. A justificativa, novamente, foi melhorar a fluidez do trânsito com menos ônibus parados para desembarcar ou embarcar passageiros.

Qual a lógica de retirar das ruas pessoas que prestam serviço a toda uma sociedade, que encaram jornadas excessivas em prol de um salário muitas vezes insuficiente? Bem sabemos os prazos malucos que fornecedores exigem, obrigando os caminhoneiros a dirigirem por horas sem paradas para descanso, muitas vezes impactados pelo sono e estimulantes capazes de prejudicar, inclusive, sua capacidade de responder a estímulos necessários para uma direção completamente segura?

Desta vez, com a pressão [muito bem pensada, aliás] da categoria, a prefeitura tem um grande abacaxi nas mãos. Como resolver?

Pena mesmo que os usuários de fretados não conseguiram encontrar um meio de protesto de impacto semelhante. Lotar vagões, em especial da linha 4-amarela do metrô e da linha esmeralda da CPTM, não traz eco suficiente para engravatados no conforto de seus sedãs lacrados e climatizados com ar condicionado. Infelizmente.

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Opinião de usuária cotidiana de metrô, ônibus, trem e também motorista.
Ou seja - me espremo nos vagões e arranco meus cabelos em frente ao volante.