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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vapor barato, violência gratuita

Minutos antes, conversava com uma amiga sobre como eu reclamava com pessoas folgadas no metrô. Empurrou? Falo mesmo: "não empurra!". Depois da baldeação, mudei de ideia. Não solto mais faíscas de estresse provocado pela caótica São Paulo.

Na última segunda-feira presenciei como o vapor barato se transforma em violência gratuita. Em mais um dia de "devido à falha na altura da estação [desta vez, Sé] da linha azul, os trens estão circulando com velocidade reduzida e maior tempo de parada", na conexão com a linha verde, aquele mar de gente.

Mesmo atrasada, pego o trem no sentido contrário para entrar no vagão em paz e sem empurrões. Quando o trem chega, de novo, na estação Paraíso, foi aquele empurra-empurra. Até que dois caras começaram a se olhar torto e bater boca.

De nada adiantou tanto grito de deboche vindo dos outros passageiros. De nada adiantou a multidão espremida ali, menosprezando as atitudes.

Vai se foder.
Vai você!
Você vai apanhar!
Ah é, seu cuzão?

[As portas se abrem e uma clareira também, enquanto uns descem, outros gritam, os dois caem.]

Lamentáveis socos, pontapés, marmanjos rolando no chão e duas almas bondosas se machucando para separar. Eram quase 9 horas da manhã na estação Brigadeiro.

Quando percebi, chorava sozinha nas escadas rolantes em direção à Paulista. Nem o caos, nem a multidão, nem o empurra-empurra, nem o estresse, nem o calor abafado, nem o fedor justificam esse tipo de explosão de raiva. Paulistanos que têm a vida muito triste.

Não solto mais faíscas. Elas incendeiam rapidamente. A partir desse dia, quem vier com tanta truculência urbana, ganha um humilde "desculpe-me, não tinha a intenção". Pode ser bobagem, mas, no momento, é minha última esperança.


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Demorei um dia para digerir o que vi. E ainda estou impressionada.
Vapor barato porque a primeira coisa que me veio à cabeça é
"sim, eu estou tão cansado" e "tão à flor da pele".
E pela efemeridade do vapor, que num instante se desfaz.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Coisas que São Paulo poderia aprender com interior do Estado (1)

Há uns dias, fui ao cinema de um shopping da Zona Norte de SP. Coisa de final de semana de paulistano, claro... e claro que havia um amontoado de gente que teve a mesma ideia que eu.

Acho um pequeno absurdo você ter que chegar mais que uma hora antes da sessão para conseguir um bom lugar na fila. Além disso, pagar R$ 20,00 para ver um filme produzido lá nos gringos e exibido no mundo todo a produção massiva industrial.

(Abro um parêntese para deixar bem claro que não quero discutir quanto é alto o preço de um cinema, um teatro ou o que seja cultura para quem é de baixa renda.)

Enfim, a escolha de sair de casa num domingo à tarde para ir ao shopping para ver um filme comercial foi minha, mas eu estava acostumada a uma linda invenção que funciona em Bauru: assentos marcados.

Simples. Quem chega primeiro, paga primeiro, escolhe primeiro onde vai sentar. Se não tem lugar que você gosta, você escolhe outra sessão. Na hora de entrar, não há filas quilométricas, que aumentam conforme as mães vão dando os lugares guardados quando enquanto seus três filhos, junto com o pai e a família do priminho, voltam da fila da pipocas.

Ingresso com lugar marcado no cinema é tão simples e tão inteligente... Sem aglomeração, sem stress. Sem vovôs reclamando de dor nas costas, sem casais de namorados dependurados um no outro e sem patricinhas reclamando de dor em cima do salto.


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O filme? Ah, foi ruim.
Foi bom apenas assistir abraçadinha com o namoradão.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Trabalhadores que Estudam

Material do curso. Trabalho e vou demorar uns 2 anos para ler tudo isso, até porque não vivo só com livros de economia.

Durante o Curso de Economia para Jornalistas promovido pelo Ipea nesta semana, a palestra de Marcio Pochmann, presidente da instituição, apresentou uma ligeira análise sobre o desenvolvimento do País. Em um dos momentos mais interessantes, apresentou com perfeita maestria que a educação no Brasil não é para poucos, é para pouquíssimos. Ainda mais nos grandes centros.

De que valem os grandes centros acadêmicos aqui da capital se o aluno trabalha 6 horas, estuda por mais 4 horas, e ainda perde, na melhor das possibilidades, umas 3 horas na locomoção casa-trabalho-estudo? Até aqui, a conta já deu uma rotina de 13 horas diárias. A formação fica restrita ao mercado de trabalho e sala de aula.

Leitura de livros? Jornais? Atividades culturais? Quando?

É a classe "mais que média" que é capaz de sustentar um jovem no Ensino Médio ou na Universidade. Pessoas que não produzem renda são, obviamente, despesas no orçamento familiar.

No Brasil, a educação não é voltada para a vida, e sim, para o trabalho. Talvez por isso as universidades aqui na capital sejam tão procuradas pela rápida inserção no mercado de trabalho. São Paulo, a terra das oportunidades também para estagiários. Confesso que, logo quando vim de Bauru para cá, achava excelente: as pessoas daqui não tiveram o mesmo martírio que eu tive para conseguir um primeiro emprego porque tinham, de longe, mais experiência profissional. Hoje, com mais reflexão, vejo que tive tempo de aproveitar a formação humana que a educação real propõe: questionar, criticar, pensar. Não apenas aprender um ofício.

Deveríamos ter estudantes que trabalham. Não é assim. Realidade sutilmente refletida quando perguntamos a alguém "o que você faz da vida":

"Eu trabalho e estudo."


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Foi a primeira vez que consegui, com clareza,
visualizar esta triste realidade. Talvez por fazer parte
do seleto grupo que não precisou trabalhar e estudar - pelo menos
não neste modo paulistano.