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domingo, 16 de maio de 2010

1744 - Lauzane Paulista

Ela escolheu a poltrona do corredor propositalmente. Afinal, qualquer que fosse a pessoa com intenção de sentar-se ao seu lado teria por obrigação iniciar uma conversa com "licença, moça". E foi assim que o rapaz gordinho passou por ela com uma pasta A3 nas mãos.




"Você desenha?"
"Sim! Quer ver?"
"Quer mostrar?"


O sorriso, aquele fundamental na conquista, apareceu pela primeira vez. Ele, tímido, aproveitou a oportunidade para desfrutar do único momento até então em que sua timidez não era empecilho para conversar com uma menina bonita. Enquanto ela perdia-se entre traços de giz de cera e lápis de cor que lindo!, ele perdia seus olhos nos vai-e-vém dos cachinhos pendurados no alto de sua cabeça. Finalmente encontrara um alguém de saias, atrevida, que por hábito tomava o controle dos assuntos do coração.

Eu desenhava, quando era criança... mas todos os professores falavam que era bobagem, então eu parei. Mas aí eu voltei. E ele também. Tipo assim, é uma liberdade. Eu vou trabalhar com isso. Tipo, cara, eu também... !!!! Embora ela preferisse traços urbanos, próximos ao grafite, ele preferia a delicadeza da subjetividade ao observar situações cotidianas. Fugia das caricaturas, mas se fizesse um desenho dela, seus olhos verdes seriam tão grandes que nem caberiam no papel.

E então nem perceberam que o mp3 parou de tocar. Nem viram o ponto que passou, onde teriam que descer. Riram, trocaram endereços de msn e prometeram se adicionar no orkut. Mal saberiam que, em um mês, mudariam ali mesmo na página virtual seus status em "relacionamento".

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Parte verdade, parte fruto de minha imaginação jornalística.
Mas quem se importa?
Vale o que acontece no meu mundo.