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sábado, 26 de junho de 2010

Segredos de São Paulo Brasileira

Aquela correria, o metrô lotado, o ônibus apertado e o trem amarrotado mudam na Copa do Mundo. Na última sexta-feira, dia de jogo entre Brasil e Portugal pela manhã, a cidade amanheceu diferente. Claro que a neblina branca de todas as manhãs embaçava o brilho do sol, que raiou amarelo por volta das 10h... mas, onde estava o trânsito? Onde estavam as pessoas? Onde estavam as sobrancelhas retraídas e as caras de sono que passam por mim todos os dias?

Falem o que quiser de Copa do Mundo, que é um patriotismo falso, que é pão e circo, e todo aquele blablablá. Mas eu sou adepta da filosofia do divertimento saudável, e que todo este sentimentalismo deixa as pessoas menos rudes, mais despreocupadas e menos apressadas. E, garanto: é mais agradável viver em uma cidade assim.

Tive a oportunidade de assistir à estreia da Argentina no Mercado Municipal de São Paulo - lá onde as pessoas vão para comer sanduíche de mortadela e pastel de bacalhau. No Hocca, um dos quiosques mais tradicionais, havia uma mesa de argentinos. E foi uma experiência mais do que divertida - eles cantam, dançam, bebem, gritam. E, no caso, ganharam. Insultos, xingamentos, brigas? Nada... abraços, risos, e provocações divertidas: "Encontramos vocês na final". Uma rivalidade saudável.

Já no segundo jogo do Brasil, contra a Costa do Marfim, fui ao Papagaio Vintém, na zona norte, um dos únicos bares que não cobrava um preço exorbitante para assistir ao jogo num telão. Futebol contagia. Todo mundo se abraçando - muito bom, três gols = três comemorações. Depois, voltando à pé pra casa, gritando pra todo mundo na rua - carros buzinando, diversão gratuita e saudável.

No mesmo final de semana, atravessei a cidade e fui para a zona sul, de carro. Garanto: em 60% dos semáforos haviam vendedores de badulaques verde e amarelos. Cornetas, bandeiras, enfeites, colares... Atipicamente, os motoristas não levantavam o vidro apressados, prevenindo-se de assaltos. Muito pelo contrário: brincavam com os vendedores (trocadilhos sobre vuvuzela em metade dos casos), faziam palpites, discutiam placares. E aí? Isso é ruim? Isso faz mal pro País? Para mim, este é o reflexo mais legal da cidade. Sentimento de coletividade. Todos ali, torcendo pro [timinho de merda do Dunga chamado] Brasil.

Agora, me diz - transformar 11 milhões de workaholics em torcedores felizes, desemburrados? Só Copa do Mundo. E eu acho tudo isso muito legal.

 No trabalho, jornalistas uniformizadas, diversão total!


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Me irritei com algumas pessoas que ficam xingando a Copa. Concordo apenas
que o torneio não deve anular todo o resto que acontece no País. Entretando, se
não gosta de tudo isso, aproveite a liberdade de expressão e manifeste-se. Mas não exagere,
não vire um chato de galochas. Vá ler um livro, vá ler seu blog de música alternativa,
vá pro cinema, enfim... vá procurar com o que se divertir.