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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Catalunya é aqui!

Há cerca de uma semana, a cidade ganhou um novo bar: o Gràcia, que leva o nome do menor distrito de Barcelona, capital da Catalunha - que é a região localizada no sudeste da Espanha. Por mais que existam algumas casas espanholas em São Paulo, este é o primeiro bar que eu conheço que tem realmente o foco na diversidade dentro de uma subcultura do país. Subcultura não por ser menor, mas por estar englobada no macro espanhol mas, ao mesmo tempo, ser totalmente diferenciada e não fazer parte totalmente do país. Isso porque a Catalunha não é Espanha, é Catalunha - possui um governo independente e todo um estilo de vida próprio.



A maneira que o bar reflete a diversidade, o colorido e as formas da arquitetura de Gaudí, grande ícone de Barcelona, é muito interessante. Elementos na mobília trazem padrões inspiradores, do mesmo estilo daqueles encontrados também na Casa Battlò. Claro que bandeiras da região decoram várias paredes (a listrada vermelha e amarela, como no brasão do Barça, time europeu do coração!), assim como as ruas de Barça são coloridas pelo mesmo padrão. Mesmo tendo bem delineado a diferença, o bar respeita a tradição não separatista nestes símbolos, pois a flâmula que indica a rivalidade maior traz um triângulo azul, como esta aqui.

O cardápio é charmoso, escrito em catalão - porque na região predomina esta língua, que pode ser definida grosseiramente como uma mistura entre o espanhol e o francês, evidenciadas em palavras como bona nit – Boa noite / moltes gràcies - muito obrigado. Coisa louca, né?

Os preços são justos - os "tapas", petiscos e comidinhas em porções para beslicar, um retrato onipresente da cultura botequeira do país, variam de R$ 20 a R$ 30. Para beber, sangría (R$ 8). Se for um amante da cerveja, entretanto, não se empolgue - o lugar oferece apenas Itaipava (R$ 3,50 long neck). A falha grave do lugar ficou apenas para a trilha sonora, que se rende ao comercial pop de FM: música eletrônica arroz com feijão e poprock de todo dia. Sem gracinha pra tanta empolgação!

Inevitável não reviver na memória os momentos e impressões quando estive por lá, em setembro do ano passado. Não foi, sem dúvida, uma das minhas cidades preferidas que conheci na Europa. Mas o ambiente é tão bem construído que é capaz de trazer à tona as melhores sensações.


Há quem diga que é uma das cidades mais bonitas da Europa, mas particularmente, não achei. É suja, é poluída, tem muitos imigrantes marginalizados (já assistiram Biutiful? Essa é a visão que eu tenho de lá), muitos problemas estruturais. E, mesmo assim, antes da Olimpíada de 1992, a cidade tinha ainda mais problemas - pois foi conhecida como um dos principais projetos bem sucedidos de revitalização por meio do evento esportivo. Torcemos para que no Rio aconteça a mesma coisa.


Mas é de impressionar, principalmente o trabalho arquitetônico, cuja expressão máxima está na Sagrada Família - o que eu mais gostei de lá. Uma igreja grandiosa desenhada por Gaudí, cujo trabalho é tão complexo que ele enlouqueceu debruçado nas obras. De acordo com o projeto original, demoraria décadas ainda para ficar pronta. Uma obra-prima da arquitetura moderna, contempla 18 torres, sendo uma para cada um dos 12 apóstolos, 4 para os evangelistas, e as maiores, dedicadas a Jesus e à Virgem Maria. Destas, apenas seis estão semi prontas.

O interior traz vitrais e mosaicos, esculturas e chanfros inspirados em ícones cristãos que exploram as formas dos elementos da natureza. Mesmo com o barulho das obras constantes, a visita é imperdível.

Como um bar foi capaz de despertar tanta lembrança, tanta grandiosidade, em apenas sutilezas? Por isso vale a pena. Mesmo que você nunca tenha ido até lá. Mas chegue cedo - a fila na porta aumenta bastante, e o lugar fecha cedo - às 3h os garçons já arrumavam as mesas e pediam delicadamente para a gente se retirar.

Sem problemas. Tantos detalhes a olhar que não pude aproveitar tudo. Vou voltar - ao Gràcia e a Barça também, por que não?

Gràcia Bar

Rua Coropes 87 – Pinheiros
(11) 2306-5478



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Um fato inusitado: Um amigo que estava comigo pediu vodka no Gràcia,
mas serviram água. Tivemos que reclamar duas vezes para eles finalmente servirem a vodka.
Depois, o garçom veio se desculpar e explicar o mal entendido.
Tudo bem, sem problemas... Pois o atendimento foi bem bom.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Domingo, dia de verão

Se você não é de Sampa, ao pensar em um parque famoso na cidade, muito provavelmente você vai pensar no Parque do Ibirapuera, na região Sul. Entretanto, não é a única opção de área verde, livre e que traz um pouco de paz no meio da cidade.

O Parque Villa-Lobos foi inaugurado em 1994 e leva em seu nome um dos maiores compositores do país, Heitor Villa-Lobos, participante da Semana Modernista de 1922. Localizado em uma área nobre na zona Oeste, um dos grandes atrativos do parque é o aluguel de patins e bicicletas – muito apropriado para aproveitar o espaço plano e sem irregularidades da pavimentação. Assim, facilmente um final de semana ensolarado torna-se convite para sair da toca e se divertir em seus 732 m² de área verde que, inacreditavelmente, já foi um depósito de lixo.

Os preços não são aquela pechincha – por R$ 10, você fica uma hora com os patins não profissionais, e por R$ 6, com a bicicleta também amadora. Mesmo assim, vale a pena – exercitar-se em meio às árvores (que não são muitas, ok, é uma falha) e à galera praticando atividades físicas é um esforço a mais. Todos os itens podem ser encontrados na entrada principal do parque.

Acho um charme andar de patins. Só tem um detalhe uma consideração importante... Eu não sei andar de patins!!! Foi minha segunda vez, a primeira havia sido aqui, neste mesmo parque, em 2009. É engraçado ver a evolução do momento em que você coloca as rodinhas nos pés e vai como um patinho até a entrada, sofre para pular a primeira grade de escoamento da água. Aí passa aquela criança de 8 anos na maior velocidade e você decide encarar – tá bom, se ela consigo, eu também POSSO! E acaba dando certo.


Para que não é muito fã das rodas e do movimento, dá para se mexer sem tantos riscos de tombos – é possível também alugar bolas de futebol e basquete, pois o parque oferece quadras de cada uma das modalidades. Não tem desculpa – e não é a toa que grande parte dos frequentadores ostenta um belo bronzeado, um corpo saudável e o prazer de praticar alguma atividade física. [claro que tive problemas para desviar das pessoas, afinal, o parque estava lotado e eu não tenho muita habilidade em cima de dois sapatos com rodinhas enfileiradas...]

Há uma quantidade razoável de bebedouros, todos limpos e funcionando, espalhados pelo ambiente. [Tudo bem que os 500 ml de água de coco por R$ 4,50 são muito mais saborosos que a água na hora de ir embora].  Também é possível encontrar aqueles totens que liberam gotículas de água que levam embora a chapinha e o calor escaldante do verão, sabe? Faz bem. Assim como faz bem usar filtro solar #pedrobialfeelings pra evitar marcas de camisetas e relógios de pulso. Acredite – ninguém da turma que me acompanhou se livrou das marcas na pele que o domingo deixou...


Atravessar a cidade para aproveitar um dia de sol e fugir dos shopping centers, a “praia” dos paulistanos, é um programa dominical que deveria acontecer mais. Me comprometi a dar repetecos. Logo mais o verão acaba! E aí sim o cineminha, o filminho e a pipoquinha vão ficar mais gostosos no sofá preguiça do domingo de manhã.

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Legal que o que nos motivou a ir ao parque foi levar um colega inglês,
que estava em Sampa conhecendo a cidade. Ele gostou muito, mas acho que
grande parte da diversão foi assistir, Guilherme, Bruna e eu se equilibrando
nos patins... Mas mandamos bem nos últimos 15 minutos com o equipamento. Juro.
E uma das minhas intenções pro blog em 2011 é falar mais de passeios
saudáveis, menos de comidinhas. Será possível? 
Era para eu ter postado isso ontem, mas fiquei sem internet #speedyfail

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Diversão (?) Gratuita - Manu Chao em Sampa!

Em homenagem aos cinco anos do Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, na Vila Nova Cachoeirinha, o programa perfeito: um evento internacional de música de protesto, a cara da "periferia".  Manu Chao, rapper francês mas multifacetado nos idiomas em que canta, após dois shows pagos [e caros] no Brasil, parte da turnê "La Ventura", finalmente um daqueles acontecimentos culturais acessíveis ao melhor estilo de uma grande metrópole como São Paulo.

Domingo ensolarado, perfeito. Ou quase.



Muito válida a ideia de realizar este evento fora do circuito elitista, dos já conhecidos Parque do Ibirapuera, Avenida Paulista, etc... O CCJ fica em uma região da zona norte da capital que sofre com
a falta de infraestrutura de diversos aspectos, como por exemplo, de transporte - sem linhas de metrô ou trem da CPTM próximas, o único meio coletivo que atende o bairro são os ônibus. Tantas vezes lotados, dentro dos quais as pessoas pagam R$ 3 para ficarem ali espremidas. Fora o CCJ, não há nenhum centro social nos arredores.

Acontece que um evento desse porte acabou por potencializar estas deficiências da região. Em uma rua estreita, em frente ao CCJ, a multidão se espremia sob um sol vespertino digno de provocar desidratações e insolações. Para refrescar a sede simples, apenas ambulantes e moradores que fizeram das casas revendedores de bebida. Cerveja e água a preços desumanos (não era para ser acessível? Poha, quatro por R$ 10, que loucura, batman!) só eram alcançados depois de muito empurra-empurra. Eu nem ouvi o Manu Chao cantar... Havia apenas uma ilha de som no meio do pessoal.



Depois de umas três músicas, já tinha gente em cima de carros estacionados, escalando casas aparentemente fechadas, famílias tirando dali suas crianças desesperadas querendo uma sombrinha.

De que adianta prover à comunidade, finalmente, acesso à cultura se não se dá o básico? Nem o pão e circo funciona se não se dá talheres para comer ou um lugar na arquibancada para assistir. Antes fosse em um local "elitista", comum a eventos desse porte - Ibirapuera, Villa Lobos, Paulista, o que seja. O único sofrimento, talvez, seria a espera do transporte público pra voltar pra casa no final de um domingo.



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Minhas companhias compensaram... Meu domingo
terminou na mesa do bar, claro. ;)