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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Alguma coisa acontece no meu coração...

Nessas noites de calor em Sampa têm despertado em mim um sentimento que há tempos não aparecia. O sentir paulistano, que vejo tão aflorado em mim e nos olhares de tantos que cruzam meu caminho.

O domingo no bar, vendo futebol.

A noite que termina num chopp e num petisco.

Vejo São Paulo mais noturna, agitada com as festas de final de ano. São Paulo mais consumista que nunca, alegria desse povo que gasta seu dinheiro em coisas porque não pode gastá-lo em tempo.

A cidade fica diferente a partir de agora... acho que é o natal.

 
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Um texto raso que deve ser uma despretensiosa postagem
do que está em mim agora...
Pode ser o natal. Pode ser que, depois de um ano,
estou voltando a gostar mesmo daqui...

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Retratos Chuvosos

Ela abriu a janela e não viu o céu estrelado.

Ele abriu os olhos e não viu a janela.

Ela percebeu os edifícios iluminados e viu que era Natal. A chuva brilhou os reflexos das minilâmpadas nas sacadas dos apartamentos, enfeitados não se sabe para quem. Dentro de cada uma das casas, pessoas como ela, que não notavam as rugas que brotavam nos rostos companheiros, interpéries do destino, por causa das fatalidades do dia-a-dia atribulado.

Ele percebeu os edifícios iluminados, mas não ligou que era Natal. A chuva trouxe de novo o medo de outro pesadelo, assombrado pelos reflexos dos faróis dos carros que passavam a toda velocidade a poucos metros de sua nova casa. Nova e velha moradia, feita de pedaços de papelão e madeira grudados de tal maneira que a luz dos carros não conseguia entrar. Mesmo na escuridão, via o rosto do seu filho que amadurecia e aprendia as desgraças de viver debaixo da ponte. O bom velhinho não traria presente, mas talvez com um novo ano chegasse também a esperança de reconstruir um barraco num lugar melhor que aquele que a chuva levou.


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Depois de ler sobre enchentes e lembrar de conversas que ouvi no ônibus hoje de manhã...
Ficção nem tão irreal quanto parece.
Concordo quando dizem que as mais belas canções vêm de corações partidos.


segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Paisagens

Não só observar pessoas, gosto de me prender às paisagens. Especialmente as mais inesperadas. Hoje, durante uma viagem de trem para Osasco, tijolos de armazéns desativados, telhas quebradas de estações cargueiras inoperantes e ruínas de edifícios coloniais mortos me entretiveram enquanto o lento trem fazia seus caminhos pelos trilhos.

Em especial, sobre o muro pichado e machucado que cerca a linha diamante da CPTM (que da nobre pedra realmente não tem nada), avistei casinhas pacatas e ruas desertas, típicas de um domingo no interior. E encontrei depois, no Google Maps, a Vila Leopoldina. Que vontade me deu de morar ali.


Exibir mapa ampliado


Um respiro de calmaria nessa cidade exagerada, tomara que a região sobreviva ao boom imobiliário...

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Papo de Táxi

- Boa noite! Vamos pra Santana, certo? Qual caminho a senhorita prefere fazer?

- O mais rápido... que, a essa hora, é o mais curto.

- Então é pela marginal... você trabalha aí?

- Não... vim fazer uma entrevista.

- Ah, então você vai trabalhar aí!

- Não, eu sou jornalista.

- Vai passar na TV, então?

- Não, é pra internet.

- Eu não gosto de internet. Minha filha que gosta, ela mexe e fala com o irmão que tá no Canadá... eu não entendo, sabe, acho bobeira.

Seu Cláudio tem um filho de 28 anos que há 11 está em Vancouver. Primeiro, foi pra estudar, mas acabou encontrando um emprego, se deu bem e ficou por lá. Pagou 10 mil dólares para casar com uma canadense e conseguir o visto permanente. Eles fazem muito disso lá também? "Quem tem dinheiro faz". E, durante esse tempo todo, não deixou o grande amor da vida dele - a namorada brasileira, que foi morar com o jovem há uns sete anos, e por causa disso não foi ao enterro do pai no Brasil.

- Mas ele vem para cá em dezembro, vai casar com a noiva brasileira e fizeram questão de que fosse aqui, sabe?

- E o senhor não vai para lá?

- Não, de jeito nenhum... ainda tenho minha mãe aqui, eu gosto daqui, não saio daqui por nada.

- Nem pra passear?

- Ah, tenho medo de gostar né? E ficar por lá. Aí que está o perigo!

- E a saudade?

- A gente aguenta....

- E a mãe dele, saudade de mãe dizem que é mais forte, né?

- Minha esposa faleceu... faz muito tempo, ele era criança ainda, foi câncer. Mas eu casei de novo. Minha sogra mesmo falou que quem morreu foi a filha dela, não eu. Aí que eu tenho duas sogras! Mas a sogra do meu segundo casamento tem cara feia, não fala, não é que nem a primeira, sabe? Mulher brava!!! Tão bravo quanto meu pai. Meu pai era espanhol.

Seu Cláudio tem seis irmãos. Seu pai, espanhol, deu carro e casa a todos quando fizeram 18 anos. Menos a seu Cláudio e o outro irmão, porque eles eram mais velhos e tiveram que ralar um pouco mais. "Mas eu não reclamo não... cuido dele até hoje. Amor e respeito nunca faltaram, e ele me ensina muita coisa".

- Não reclamo da vida... quero logo que meu filho venha pra eu vê-lo. Não gosto de internet, câmera, não é a mesma coisa... só fico feliz por ter isso porque se não fosse a internet minha filha, que é do segundo casamento mas o considera como irmão, não ia lembrar dele. Eles se veem todo dia e isso é bom... tenho uma família feliz. Trabalho até às cinco da manhã e minha filha vai me encontrar com um beijo. Ela vai pra escola e eu durmo... gosto de trabalhar com táxi. Eu trabalho enquanto ela dorme, e vivo no resto do tempo.

Com certeza, seu Cláudio. O senhor vive.


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Adoro papo de táxi. A volta da Rede Bandeirantes
até minha casa demorou 40 minutos e custou R$ 87.
Passou como se fossem só 15 minutinhos.

domingo, 8 de novembro de 2009

Quanto dura um filme?

Tive uma estranha experiência no último sábado, quando vi Quanto Dura o Amor?, no HSBC Belas Artes. É que o filme todo se passa ali, no cinema - o cenário é quase integralmente a Avenida Paulista x Rua da Consolação. Ao sair da sala, vi nada mais que todos os cenários do filme. Com duas amigas, caminhávamos com a estranha sensação como se, a esquina, fôssemos encontrar os personagens cujas histórias acabávamos de ter sido testemunhas.



Trailer: Divulgação 

Entre outras histórias, o filme traz o deslumbre de uma menina do interior recém-chegada à capital. Experiências intensas de conciliar a carreira profissional, motivo maior que a trouxe até aqui, com a vida particular de mulher, entre amores, desamores e corações partidos.

São Paulo é exagerada. Te faz pensar em coisas que você nunca tinha pensado antes, te faz construir e desconstruir planos, te faz repensar sobre todo o sentido de viver. Te mostra que o mundo é maior. Te faz querer ter uma vida espetacular e te faz pensar que loucura é ter aquela vidinha normal. E, por isso, te faz entrar de cabeça em experiências malucas que, a outros olhares, é loucura. Mas, para você, é normal.


foto: Divulgação


O filme teve em mim um efeito inesperado. Não refleti sobre sexualidade e as conveniências das histórias de amor, que acho que é o que o filme propõe, mas refleti sobre as mudanças que São Paulo fez em mim nestes 11 meses (quase um ano!!!) que voltei de Bauru para cá.

E ainda estou refletindo... o filme durou mais em mim. Até onde vão minhas ambições? E quais são as minhas vontades?

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Uma curiosidade sobre o filme: as falas não são decoradas.
O diretor apresentou as cenas e pediu para que os atores improvisassem.
Recomendo o filme, sobretudo se você vive em Sampa ou sabe das transformações
que essa cidade nos traz.