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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Retratos Chuvosos

Ela abriu a janela e não viu o céu estrelado.

Ele abriu os olhos e não viu a janela.

Ela percebeu os edifícios iluminados e viu que era Natal. A chuva brilhou os reflexos das minilâmpadas nas sacadas dos apartamentos, enfeitados não se sabe para quem. Dentro de cada uma das casas, pessoas como ela, que não notavam as rugas que brotavam nos rostos companheiros, interpéries do destino, por causa das fatalidades do dia-a-dia atribulado.

Ele percebeu os edifícios iluminados, mas não ligou que era Natal. A chuva trouxe de novo o medo de outro pesadelo, assombrado pelos reflexos dos faróis dos carros que passavam a toda velocidade a poucos metros de sua nova casa. Nova e velha moradia, feita de pedaços de papelão e madeira grudados de tal maneira que a luz dos carros não conseguia entrar. Mesmo na escuridão, via o rosto do seu filho que amadurecia e aprendia as desgraças de viver debaixo da ponte. O bom velhinho não traria presente, mas talvez com um novo ano chegasse também a esperança de reconstruir um barraco num lugar melhor que aquele que a chuva levou.


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Depois de ler sobre enchentes e lembrar de conversas que ouvi no ônibus hoje de manhã...
Ficção nem tão irreal quanto parece.
Concordo quando dizem que as mais belas canções vêm de corações partidos.


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