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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Foto, feira e futebol

Tantas pessoas aqui em São Paulo acostumadas a comprar frutas, legumes e verduras nos supermercados e grandes redes que pensar em feira é algo bem distante da realidade urbana. Uma bobagem, porque a cidade tem feiras bairristas onde ainda é possível experimentar pedacinhos de frutas para garantir que estão doces, pechinchar precinhos e, claro, ouvir aquelas cantadas engraçadinhas dos feirantes.

Uma das mais conhecidas é a Feira do Pacaembu, em frente ao estádio (que dizem ser municipal, mas dá pra falar que é como uma casa do Timão). Todas as manhãs de sábado, barracas de peixes, frutas, legumes e flores lotam a praça. Para os comes e bebes, o tradicional pastel e caldo de cana. Duas barracas são recomendadas: a da Dona Maria, que foi eleita há pouco tempo o melhor pastel de feira de São Paulo, e a Barraca do Zé, que é indicada pela Vejinha.



No último sábado participei do Scott Kelby's Worldwide Photo Walk, um evento no qual grupos de fotógrados (profissionais e amadores) se reúnem para capturar imagens de um determinado local, em diversas partes do mundo. As pessoas se encontram pela internet - qualquer um pode organizar um photo walk em sua cidade, e não precisa ser membro de nenhuma comunidade para participar: basta se inscrever no site do projeto, procurando o lugar onde você estará na data. Este foi liderado pelo João Junqueira, mas não foi o único aqui na cidade - o outro foi no Parque do Ibirapuera, mas achei bem clichê fotográfico... É o terceiro ano do evento, minha segunda participação. E é claro que, além de tirar fotos, aproveitei pra dar aquela turistada.



O estádio fica aberto para visitação quando não tem jogo, e dá pra chegar bem pertinho do campo. Até quem não gosta de futebol fica meio bobo tentando imaginar todos os lugares ocupados por torcedores ensandecidos, pulando e cantando. Mas não dá para não criticar - em caso de Copa do Mundo, muitas mudanças precisam ser feitas.

Primeiro porque não é coberto - choveu, molhou. Segundo porque a arquibancada geral, mesmo sendo numerada, não tem assentos. A segurança parece ser tão fraca - apesar do fosso e proteção, consigo visualizar algum maluco tentando entrar no meio do campo pra agredir, tietar ou simplesmente ter contato com algum jogador. E alguém respeita assento em estádio aqui no Brasil? Mudança básica, que começa na educação.

Sei que o primeiro da lista é o Morumbi, ainda tem aquele projeto de construir um estádio em Pirituba. Mas, na boa? Por que não investir num estádio que já é municipal, que já tem história, que faz parte da cidade e não tem envolvimento com clubes, em uma área onde o acesso já é mais tranquilo - com diversas linhas de ônibus e razoavelmente próximo à linha verde do metrô? Não dá pra entender.

Sem falar que o lugar é bonito. E tem o Museu do Futebol, o qual não conheço (me chicoteiem, por favor) e não deu tempo de visitar porque tinha um compromisso à tarde.

Fiquei imaginando os turistas estrangeiros na feira de manhã, no museu à tarde e à noite, quem sabe, uma partida. Por que não? Ah, São Paulo, esperava mais de você.


Feira do Pacaembu, Estádio Paulo Machado de Carvalho e Museu do Futebol.
Praça Charles Miller, s/nº.

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Quer ver as fotos da feira? No meu Flickr está minha seleção. Ainda vou
postar mais algumas - você pode acompanhar meus cliques sempre
no rodapé do blog. Pode acessar também o link da minha página ou a do grupo.

domingo, 18 de julho de 2010

Descubra seu bairro

Megalomaníaca, São Paulo é tida como a cidade com a melhor gastronomia do País, a cultura mais movimentada, o metrô mais organizado, o município mais rico. Tem as melhores baladas, os maiores shows, os melhores hotéis, os melhores e maiores isso e aquilo. Tudo isso é muito legal (principalmente porque dá pra brincar de fazer invejinha a pessoas de outras cidades quando se está a turismo), mas não deixe de explorar seu bairro, descobrir os cantinhos que mais te agrada, as paisagens que mais se revelam, a arvore com a folha mais bonita, o boteco com o chop mais gelado, o restaurante com a feijoada mais gostosa. Não precisam ser do grande circuito, apenas ter o gostinho bairrista que te faz bem.



No meu caso, no Alto de Santana, encontrei uma pizzaria bem bacana. (Tá, eu confesso, desde que abriu, eu vivo nessa pizzaria porque sou uma gordinha feliz com Visa Vale.) Chama-se Baobá e, bem pequenininha, eles fazem uma pizza incrível: com massa fininha, do jeitinho que eu gosto. Sempre que posso, vou lá com minha família, namorado, amigas... Dá pra ir a pé de casa - a melhor parte.


                   A pizza é pra ilustrar, só. Não tirei foto.


O que eu gosto destes lugares bairristas é quando eles se propõem a ser justamente isso - bom, pequeno e bairrista. Não têm grandes pretensões em se tornar uma rede, em produzir em escala industrial - e tudo que é feito em massa acaba tendo uma tendência a perder um pouco da qualidade. Justamente pela modéstia, primam em realizar seu melhor serviço do começo ao fim. Recepção, atendimento, produto, conta. No caso do Baobá, o pizzaiolo é habilidoso, os garçons muito simpáticos e atenciosos, a moça do caixa sempre de bom humor. Eles tomam conta de tudo com muito cuidado - o ambiente muito agradável, o cardápio bonitinho, o papel que serve de jogo americano rústico, combinando com o visual da pizzaria como um todo. O cardápio razoável, que mantém a identidade e sai da linha apenas ao oferecer sopas e sobremesas que não têm muito a ver com pizza. Mas tudo bem, são deslizes perdoados como se fossem licenças poéticas. Nada de cara amarrada ou outros inconvenientes que têm se tornado comuns em lugares badalados de Sampa.

O Baobá é pequeno, mas está sempre muito movimentado. Indico muito a todos que moram aqui pela zona norte.

Da última vez que fui, até brinquei com um dos garçons. Ele escreve ao contrário! Percebi do nada, por essa mania minha de reparar nas pessoas. Começa a escrever da última letra e termina no começo da palavra. Quando tira a mão e revela o papel, a palavra está lá, completinha, bonitinha: 1/2 Quatro Formaggi e 1/2 Peito de Peru. !!!! Que loucura, batman... Estava com amigas, fizemos um escândalo tão absurdo que acho que ele ficou um pouco sem graça... hehehe. Ainda vou fazer um post só com ele. O nome dele é Walter. (fico devendo a foto do lugar e do garçom. prometo atualizar a postagem)

E em todo bairro deve ter um Walter esperando para ser descoberto, uma boa pizza esperando para ser devorada, um bom vinho para ser degustado... Sem aquele estresse de ter que pegar o carro e enfrentar o trânsito. Basta deixar a preguiça de lado e descobrir o seu charminho em seu bairro paulistano.


Baobá.  Rua Cons. Moreira de Barros, 1322.
Santa Terezinha/Alto de Santana.


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Ah, Baobá é o nome de uma árvore, nativa de Madagascar.
É também a planta que contamina com suas sementes o solo do asteroide
do Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry. Taí um livro que eu preciso ler.

Poxa, preciso de um celular com uma câmera decente. Vai melhorar muito minha frequência
e qualidade no blog. Na wishlist.

terça-feira, 6 de julho de 2010

No Centro, olhe para cima

Para quem está acostumado com a rotina de trabalho, o dia a dia corrido e apressado, olhar para cima parece uma loucura. Afinal, em São Paulo, é tão comum encontrarmos pessoas olhando para baixo... Para que ao olhar a frente seu olhar pode cruzar os olhos de quem vem ao seu encontro, o que é quase um afronte. Cada um em seu umbigo? Cada um com seu pedaço de chão? Mal sabem eles que todos têm um pedaço de céu - bem maior, mesmo que sufocado por tantos edifícios que cortam o horizonte.

E por que não observar estas lâminas? Venho fazer-lhes uma proposta: olhem para o céu. Principalmente no centro de São Paulo, com seus edifícios imponentes, que quiseram mostrar poder econômico de uma outra maneira, diferentemente da qual estamos acostumados.

Banco de São Paulo, Vale do Anhangabaú

Quando eu olho para cima, praticamente escuto bondes e murmurinhos do passado. Fico imaginando quando estes prédios se ergueram, a sensação e a pequenez que as pessoas sentiram lá em baixo - afinal, esta altura era realmente grandiosa. Janelas, mármores e granitos arquitetados para impressionar.

Depois desta proposta, agora, um convite. Suba ao céu. Se é de segunda a sexta-feira, das 10h às 15h, não deixe de subir ao céu pela trajetória ao seu alcance - o Edifício Altino Arantes, ou a Torre do Banespa (banco que nem existe mais, mas seu nome será eterno nesta construção). Inaugurado em 1947, já foi uma das construções mais altas da cidade. Hoje, lá em cima, neste horário, dá para olhar para baixo e brincar de encontrar pontos históricos. Dá para ver a triste e cinzenta camada de poluição. Dá para ver até o olhar perder a vista. E que vista.

E só de lá de cima, olhando para baixo, dá para ver paisagens lá de cima que, de baixo, olhando para cima, não conseguimos enxergar. Confusão tamanha ao encontrar um jardim suspenso, no topo de um prédio em pleno centro de São Paulo, com um gramado e uma árvore. Sem caminhos, sem cadeiras, sem pessoas. Um jardim deserto em meio a uma floresta de concreto para o qual não consegui nenhuma explicação.

Embaixo das raízes trabalham pessoas, sentadas em suas baias e mesas de tons mortos, que decoram paredes com natureza morta?

E neste contexto maluco elas vivem, talvez sem nunca terem olhado para cima, talvez sem nunca terem ido lá em cima, talvez sem terem reparado no céu... (Se alguém descobrir que prédio é este e o que faz este jardim aí, agradeço.)

A Torre do Banespa é um passeio daqueles que, mesmo sem companhhia, vale a pena.

O ruim é que, depois de uma longa espera, só é possível passar dez minutos no terraço, que fica no 34º andar, em pequenos grupos de cerca de quinze pessoas. Muitos podem até achar bobagem, devem inclusive trabalhar em edifícios comerciais mais altos que este, devem ver uma paisagem talvez até mais longínqua... Mas não são no Centro, no coração da cidade, no topo da história, de onde se vê tantas referências paulistanas abaixo de seus pés.

E não deixe de tirar uma foto lá de cima. É o básico.


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Ainda fico inconformada como tem gente que mora aqui e não conhece o Centro!
Não que eu consiga me localizar naquelas ruas - que pra mim são todas iguais. Mas parece
que o lugar tem até um cheiro diferente para mim, de tão familiar que é.

domingo, 4 de julho de 2010

Dia de boteco

O bairro da moda dos botecos e barzinhos em São Paulo é a Vila Madalena, que apesar de suas ótimas opções, dá nos nervos de alguns paulistanos: é só pensar no trânsito para chegar lá, no vuco-vuco para circular lá e no tempo perdido nas longas filas de espera, que muitos desistem de sair de casa. Pois a cidade tem agradáveis surpresas em bairros nem tão conhecidos até mesmo de quem mora aqui... É o caso do Largo da Matriz da Nossa Senhora do Ó, a pracinha escondidinha onde fica o boteco com cara de restaurante que serve a coxinha mais crocante e deliciosa deste mundinho de Deus: o Frangó.

No Largo Nossa Senhora do Ó: claro, toda pracinha tem uma igreja

Para chegar, fácil: suba uma travessa da Av. Edgar Faccó, na altura da Ponte do Piqueri, na Marginal Tietê. Não se deixe contaminar pela paisagem cinza de um bairro nada charmoso no caminho, pois nos arredores do largo, a paisagem se transforma. Em uma vizinhança agradável e com o mesmo jeito interiorano da Vila, a Freguesia se revela.

Na praça, vários botecos com mesas nas calçadas tentam o paulistano em um final de semana despretencioso. Mas não deixe de entrar neste casarão do século XIX, com suas paredes verdes convidativas. Para chegar ao salão principal, o cliente desce uma escada e parece estar entrando no porão do estabelecimento... É tudo muito aconchegante, com uma overdose de informação nas paredes: cartazes de cervejas de todos os lugares do mundo ambientam o bar. É um dos poucos botecos nos quais é recomendado não sentar-se à calçada, e sim, lá dentro.


E a família comemora com estilo os 50 anos do paizão

Não dispense a porção de coxinhas. Vale cada mordida, inclusive provoca o debate filosófico, propício para uma mesa de boteco: começar por onde, pela pontinha ou pela bundinha? Pela pontinha que nos pega pelo crocante irresistível? Ou a bundinha que traz a generosa porção de catupiry e o saboroso frango temperado, ao contrário daquela carne colorida de vermelho que os botecos convencionais colocam no recheio para nos enganar?


 Detalhes das paredes: cervejas do mundo todo

Na carta de bebidas, cervejas, cervejas, cervejas... Todas. Mesmo. Mas a caipirinha é feita ao ponto e também é imperdível. O Frangó foi eleito seis vezes pela Vejinha o melhor boteco de São Paulo e tem à disposição dos mais curiosos um livro charmoso com os pratos famosos e a história da casa.

Uma boa pedida para um sábado à tarde para quem não fica só nos petiscos e emenda o almoço - o que é muito comum - é o tradicional frango assado na brasa, acompanhado de polenta. Irresistível, no cardápio está recomendado para duas pessoas. Entretanto, depois das coxinhas, serviu bem à minha família no aniversário de meu pai: seis.

Bem frequentado, por famílias e grupos de amigos, o ambiente de bar se assemelha a um restaurante, que na medida consegue a informalidade de um boteco sem o barulho infernal destes ambiente. Mas guarda os caprichos e o serviço de um bar competente, para quem gosta de desvendar horizontes de São Paulo.

Frangó: Largo da Matriz Nossa Senhora do Ó, s/n. Tel: 3932 4818.
Abre todos os dias da semana, exceto às segundas-feiras.



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Eu adoro coxinha, eu adoro comer, adoro caipirinha...
E acho que dia de boteco é sábado à tarde. Acho um crime quem mata o sábado à noite assim.
A noite é para a baladas dos solteiros, ou o sofá com filme dos namorados.