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domingo, 26 de julho de 2009

Cemitério da Consolação

"Tem muita arte aqui. Victor Brecheret, esculturas lindas. Minha mãe está aqui, logo logo eu estarei também".

Pereira Filho

Entrei no Cemitério da Consolação guiada por esta senhora de 90 anos, orgulhosa de ter um jazigo perpétuo no primeiro cemitério público de São Paulo, inaugurado em agosto de 1858.

Realmente, caminhar por suas ruas é, além de um agrado aos olhos, um passeio pela história da cidade. As ruas, apesar de numeradas, abrigam as casas daqueles que dão nome às ruas da cidade, de nossas casas. Ricardo Jafet, Eduardo Prado, Paes de Barros, Matarazzo...

Mais dor

Ela nos guiou contando histórias de amores passionais que ali terminaram, de doenças, de episódios que causaram tanta dor. Nomes fortes, arte sacra forte - que ora expressa serenidade passiva frente a morte inevitável, ora dor pulsante e insuportável da saudade.

A suíça que não falou seu nome continuou nos guiando por entre túmulos que são verdadeiros mausoléus. Cada um com sua peculiaridade, poucos com fotos, muitos com homenagens. Cada história, cada escultura, cada nome e data livres à interpretação de quem por ali passa, invisível, no silêncio de um terreno localizado em uma das ruas mais barulhentas da cidade.

Distante da carícia materna
pendeste qual pálido jacinto
e agora não dizes mais aos mortais
as noturnas harmonias de Chopin.
Mas aquela música invisível
ainda conserva e vive o amor
que à vida te deu
e à vida hoje te chama
(A Luiza Crema Marzoratti, 1896-1922, de sua mãe)

Duas horas e foi pouco. Um abraço à vendedora de flores anônima que me revelou tantos caminhos que vivem entre os mortos.

Um sábado paulistano

Hoje eu tive um sábado feliz.

Passear na Paulista dando uma de guia turística para amigas do interior que vieram trabalhar aqui, com garoa... foi o mais paulistano possível que meu sábado poderia ter sido.

E terminar com pizza e família para celebrar os hábitos da selva de pedra.

Apesar de tudo, Sampa me traz bons momentos.

sábado, 11 de julho de 2009

Túnel do tempo


Túnel do tempo?
Eu o vi, eu o vi!, quando a retroescavadeira se afastou!
“Ah, dona Diana, sinto muito, mas a retroescavadeira vai ter que voltar...”
Apaga-se a luz.
Só fico então com as linhas enroladas, escuras, enrolando-se no túnel.
“Só mais um pouco e a retroescavadeira sai, dona Diana, só mais um pouco.”
E sai.
E então, impulsionada por força que não sei explicar,
sinto o nanquim pegar em minha mão, e, juntos, em gestuais concêntricos,
vamos girando pelo túnel, girando, girando, até atingirmos a luz no fim do túnel...


Descobri as aquarelas e os textos de Diana Dorothéa Danon por acaso, procurando os horários do transporte público em São Paulo no site do metrô. Ela expressa o andamento das obras de expansão do sistema de transporte por meio de retratos sensíveis, capazes de congelar a efemeridade das cenas das obras urbanas. Um tesouro de sensibilidade.

Não é segredo que sou fã do metrô de São Paulo e quero muito o fim dessas obras. Quero novas linhas, novos projetos. Acho que a solução para o trânsito dessa cidade é furar mesmo todo seu subsolo e construir linhas intermináveis, para todos os cantos e direções. Simultaneamente, claro, a uma conscientização das pessoas que é necessário deixar o carro em casa - principalmente aos dias úteis.

Eu, que espero ansiosamente o fim do ano para comprar meu carro, sobrevivi a um feriado e a uma sexta-feira passeando de metrô e ônibus, fui até a Osasco. Sei que é preciso andar de transporte público para o trânsito fluir. E que, se as pessoas não pensarem assim, quando eu comprar finalmente o meu possante, não haverá espaço para ele nas ruas. O paulistano deve entender que o automóvel nem sempre é a melhor opção - e me preocupo se eu vou continuar pensando assim quando estiver ao volante.

Conheça o trabalho de Diana aqui.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um bando de louco...

Confesso (e isso não é nenhum segredo) que eu não gosto de futebol. Já simpatizei pelo Corinthians, acho que por pressão social (quem disse que é fácil não gostar de futebol no Brasil? Em São Paulo?) de, pelo menos, ter um time quando alguém pergunta. Mas, aos poucos, fui assumindo mesmo: não aguento jogo. É chato. Não gosto e pronto - e você também não gosta de muita coisa que é paixão de muita gente.

Acontece que é impossível estar alheia ao universo da bola, principalmente quando você mora com um maloqueiro e sofredor como meu irmão. E quando você é vizinha de milhões de maloqueiros sofredores.

Na última quarta-feira, durante a final da Copa do Brasil, tive a sensação de final de Copa do Mundo. E não é que foi divertido? Não pelo futebol, pelo jogo, ou pela vitória do Corinthians. Mas sim pela comoção social que uma partida causou no bairro, na cidade. Muita gente na rua, adolescentes no meu prédio que se reuniram para ver o jogo, pessoas em bares, gente buzinando na rua, torcedores se provocando.

Não consigo assistir a um jogo pela TV. Lembro-me bem quando fui ao estádio pela primeira vez, com família, em um jogo comemorativo ao aniversário da cidade, no Morumbi... me diverti o tempo todo, mas era porque observava a torcida. A paixão no olhar das pessoas, como tanta gente consegue cantar junto a mesma coisa, pular junto, torcer tanto para a bola entrar no gol.

E foi isso que aconteceu na última quarta-feira. Meu irmão gritando na sacada e comemorando com nosso vizinho chato - que detestamos, unidos pelo Timão. As pessoas gritando na rua, os rojões ensurdecedores sem parar.

No dia seguinte, ele foi almoçar comigo na Av. Paulista... e arrisco dizer que 80% dos executivos de terno deixavam aparecer a camisa do Timão por baixo do paletó, em um dos bairros mais pomposos da cidade, conhecido por ser passarela de pessoas elegantemente vestidas. Essas pessoas sorriam para ele, o atendente do Spoletto riu e bateu o maior papo. Pelo menos por um dia, as pessoas se esbarravam e pediam desculpas, sorrindo, brincando com o resultado do futebol, ao invés de continuarem emburradas em seus caminhos.

Pode ser pão e circo, pode ser chato, pode ser o que for. As pessoas esqueceram do Sarney, da morte do Michael, da crise econômica... Mas comove, e isso é muito legal. E, na boa, nunca vi Palmeiras ou São Paulo ou qualquer outro time, aqui em São Paulo, causar tudo que o Corinthians causa. Os "loucos por ti, Corinthians" alegram noites paulistanas.


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Até brinquei no twitter, com alguns desconhecidos que riam comigo, sobre o que um jogo estava causando na rede. A hashtag #VaiCorinthians ultrapassou o Michael Jackson nos tópicos mais citados no microblog.

Eu fiquei imaginando como será no ano que vem, se o Corinthians começar a ganhar os jogos da Libertadores... loucura total. A cidade vai explodir...

E ah, sobre o barulho das ruas... estava cansada,
dormi sem dificuldade após o fim do primeiro tempo.