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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Rompa o silêncio: Fale! Mas também ouça!

Hoje voltei a debater o caso dos Estudantes da USP. Começou com a capa da Folha de São Paulo de hoje, que trouxe uma foto da manifestação pela qualidade da educação e liberdade na USP, que aconteceu quinta-feira (24), na Avenida Paulista. Na foto, um estudante encara duas senhoras, uma delas fazendo um gesto obsceno. Sem entrar no mérito da causa de cada um (estudante, senhora), um colega de faculdade ligado ao movimento estudantil da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) fez uma excelente leitura semiótica:
O assunto voltou aos Trending Topics e eu me deparei com a opinião de um outro colega de profissão, também aluno da FFLCH, mas com posição bem diferente dos líderes do movimento. Ele, contudo, tem dado aulas de democracia ao participar do debate de maneira inteligente, procurando diferenciar sua opinião pessoal de relatos e decisões democráticas, além de condenar radicalismos de ambos os lados.


Foi então que começou. Dentre meus  421 seguidores (me segue aí!), estão muitas pessoas que não conheço. E foi então que comecei a receber mensagens revoltadas pelo retweet da frase acima. Minha ideia com esta postagem não é defender meu ponto de vista. É apenas justificar que não converso com radicalistas de ambos os lados e, em especial, aqueles que subestimam o movimento que estamos vivendo na USP com argumentos batidos, reproduzidos de um discurso moral senso-comum.


De uma maneira bem objetiva e didática, para facilitar a vida dos preguiçosos e tentar evitar más interpretações, seguem algumas considerações minhas. E por que eu refuto os argumentos dos radicais que reproduzem o discurso de [grande parte] da mídia massiva.

O que eu quis dizer com “reaça radical”?
Que pessoas que usam os termos “maconheiros”, “drogados”, “vagabundos”, “marginais” representam uma tentativa clara de ofensa pessoal às pessoas que estão defendendo seus direitos e não estão dispostas a ouvir a posição contrária. Elas não estão interessadas na real discussão do movimento estudantil.
Também representam radicais do movimento estudantil que seguram bandeiras de partido e pregam anarquia, desviando, da mesma maneira, a questão central do movimento estudantil, que se fundamenta nos seguintes pontos centrais: a eleição controversa do reitor Rodas e suas mudanças administrativas na faculdade, a qualidade da educação na USP e no país como um todo, e situações arbitrárias e abusos de autoridade num ambiente de livre expressão e exercício da crítica, que é a universidade pública.

"Maconheiros" é como são chamadas as pessoas que fumam maconha, logo, não estou mentindo.
Sabemos que, ao utilizar este termo, as pessoas não estão categorizando o uso da droga em questão. Os próprios usuários de maconha se autorreferem como maconheiros. Mas as pessoas que assim chamam os alunos que questionam a proibição desta droga apelam para a conotação social que o termo carrega há alguns anos com nítido objetivo de desmoralizar a opinião e as reivindicações de uma parcela da sociedade, apenas por utilizar uma substância ilegal.

Vagabundos mesmo, porque não estão trabalhando, vão trabalhar!
Na verdade, isso só prova a maneira como a educação é vista por estas pessoas. Em muitos países, os estudantes têm o status social de "profissão", porque ocupam o tempo com o estudo, que é uma maneira de trabalho intelectual. Assumir a academia integralmente é, nada mais, que a valorização da atividade de estudar!

Tudo bem eles não trabalharem, mas ainda são "vagabundos" sim porque sequer eles estudam!
O estudo em uma universidade por definição é para o exercício da crítica. Nem todo estudo (talvez, nenhum estudo) deve ser voltado apenas para o trabalho. Muito pelo contrário, o pilar da universidade pública é ensino-pesquisa-extensão, justamente para reverter à sociedade tudo que se é trabalhando no campus. Ou seja, o trabalho crítico gera mudanças sociais e consciência social, para gerar mudança social. E não trabalhar em prol de interesses privados, em empresas, por exemplo. Muitas das pessoas que estão gritando reivindicações nas ruas estudaram muito para entrar na USP e estudam história, filosofia e o humanismo por trás de toda carreira e profissão. Não é porque não estão estudando leis de mercado e a atualidade que o "estudo" deles é inútil.

Marginais porque depredam o patrimônio público, viram a baderna que foi a invasão da reitoria! Aconteceram sim, eu vi fotos nos jornais, fotos não mentem.
Na verdade, sabemos que fotos são recortes de uma realidade global. Destruição, pichação e outras manifestações aconteceram. Mas foram atos isolados dentro de um ambiente de debate que é o movimento como um todo, que acontece antes mesmo deste episódio, desde a eleição do Rodas.
Por definição, marginal é todo mundo que vive à margem de alguma coisa. No caso, a população das periferias são marginais porque vivem à margem de serviços públicos. E isso não significa que todo mundo que mora lá é criminoso, se é isso que vocês estão tentando defender.
Este é um ponto polêmico. Não estou defendendo a ocupação tampouco esta forma de protestar ("quebrando tudo"), mas isso não faz de ninguém um marginal.

Eu pago meus impostos!!! Eu não quero que quebrem tudo lá, quero retorno do meu investimento!
Como já disse, o tripé da universidade pública é ensino-pesquisa-extensão. Por que não exigir então o retorno com a melhora das duas partes voltadas justamente para a sociedade, o "pesquisa-extensão"? Pasmem, essa é mais uma das reivindicações dos estudantes - melhoras destas qualidades da universidade. Mesmo tendo a USP, (também Unesp e Unicamp, para ser justa com as primas pobres das estaduais de SP) entre as melhores universidades da América Latina, elas estão longe de ser referência mundial - coisa que os Estados Unidos domina com Yale, Harvard, Columbia e Berkeley; e Europa com Cambridge, Sorbonne, entre outros.
Além disso, dentre as reivindicações para melhorar a segurança no campus está torná-lo um lugar de livre circulação de toda a sociedade, para que todos possam ter, de certa maneira, seus impostos revertidos. Ter acesso ao ambiente e frequentar bibliotecas e outras instalações da USP. Integrá-la à cidade.

Bando de filhinhos de papai que têm dinheiro para pagar uma faculdade particular! Se eles não querem estudar lá, deem vagas pra pessoas sem condições de pagar por estudo!!!
Então por que não reivindicar melhoria no ensino de base, para que todos tenham retorno de seus impostos desde o começo de conversa e tenham chances reais de estudarem em uma universidade pública?
Mesmo assim, a USP dá um benefício no vestibular para egressos de escolas públicas e mantém projetos de intercâmbio com países da América Latina e África. Estudantes sem condições de se manterem têm acesso a bolsas de auxílio e fomento.

Se eles não querem estudar, deem suas vagas para quem está interessado a aprender!!!
Quem disse que as pessoas não querem estudar? Elas estudam. O fato de ter mais gente interessado a aprender é ótimo, mas sabemos que não temos vagas suficientes para toda a população. Quem sabe lutar por esta causa?

Porra, vão protestar de outra maneira, não estamos em 68!!! Fica atrapalhando minha vida, demorei 40 minutos pra chegar em casa porque a Paulista estava fechada, onde já se viu atrapalhar o direito de ir e vir das pessoas!
Para mim, um objetivo individualista é pífio perto do coletivo. Chamar atenção para a sociedade era o objetivo, que foi alcançado. A Paulista está aí para ser palco de inúmeras causas - um dos centros financeiros do país é foco, chama o debate para toda a sociedade. Hashtags e bunda no sofá não vão mudar o mundo se não vierem acompanhadas pela troca de informações.

Em resumo, alguns argumentos furados e minhas opiniões sobre cada um. Se quiserem me convencer do contrário sobre qualquer um deles, o espaço de comentários está aberto.
Mas, de novo - se for para partir para ofensas pessoais ou que reproduzam o discurso isento de argumentos (marginais! vagabundos!), vou continuar ignorando.

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Existem mil outros pontos, argumentos... Mas vamos debater de verdade.
Falar e ouvir. Me expus bastante, que venham as pedradas