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quarta-feira, 27 de maio de 2009

A encantadora leitora dos papéis em branco

Ela tinha a habilidade de guiar-se entre as palavras invisíveis daquela folha de papel em branco. Apertada na poltrona desconfortável do ônibus lotado, acompanhava cada linha com os dedos e, a cada surpresa, sorria.

Ao apagar a luz, o motorista nem percebeu a leitura daquela moça. "É que atrapalha, assim de noite, uma luz aqui dentro com as luzes lá de fora". Não é que as luzes lá de fora não iluminavam os parágrafos misteriosos que ela desvendava a cada sacolejo?

Não dava para ver a atenção de seus olhos. Enquanto todos reparavam no seu estranho hábito de usar óculos escuros quando já era noite, eu não desgrudava do mistério que aquelas folhas em branco traziam, impregnado na sua trama.

Observei muito a encantadora leitora dos papéis em branco, que sequer notou minha presença. Para ela, não havia mais ninguém - só o desenrolar da história envolvente que ela lia.

Quando deu sinal para descer, esperou sentada a chegada no ponto. Desembarcou pela porta da frente. Ela não podia ver os degraus, mas enxergava perfeitamente todo o enredo que os furinhos em braile lhe revelavam na ponta dos dedos.

Intrigas

Não podia aceitar... era um absurdo. Como assim, ela, depois de cinco anos, teve a coragem de falar tudo o que disse, na cara, sem vergonha, sem pensar em tudo que a outra tinha feito?

Desculpa... quer que e... segura? Tá...

Depois que a outra deu carona e, por meses, não cobrou nada. Tudo bem que era caminho, mas senta aqui, por favor... tudo bem... tinha que ficar esperando a menina se arrumar, tomar banho... e demorava! Uma vez, quando ela acordou atrasada, tá atrapalhando? esperou mais de meia hora na calçada de faixa amarela. E, obviamente, chegaram atrasadas no pode por aqui, senhora serviço. O chefe não quis nem saber: deu a advertência sem escutar explicação. Ela teve que trabalhar no final de semana e a bonitona, não.

Um mês depois chega a multa... não é pra sentir raiva??? Não, pode falar, não é???

Dá licença? Moço eu preciso passar.

Pode parecer assim, ouvindo, pouco. Mas para ela deu. Cobra. Ridícula. Vaca. Haja santa paciência! Ninguém merece. Depois tentou até proc...


Sé.

Fosse o namorado roubado, a conta atrasada, o empréstimo devido, o emprego cobiçado. Não sei. Quando porta se abriu, testemunha e vítima se foram pelo lado esquerdo do trem.

sábado, 23 de maio de 2009

O Paraíso é um inferno...


Estação Paraíso do metrô de SP, sentido Turucuvi, sexta-feira (22), 18h15. Cinco trens depois, eu embarquei.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Presa no Paraíso

Sempre fui fã do Metrô de São Paulo. Apesar da superlotação de passageiros nos horários de pico (principalmente na , Luz e Paraíso), acredito que o metrô é a solução para o trânsito caótico da cidade.

É limpo, é seguro, é rápido, é barato. Por isso escolhi o Metrô para voltar da festa de um amigo, nos Jardins, na terça-feira (12). Já era quarta quando embarquei na estação Consolação, às 0h15min, com uma amiga. Ficamos tranquilas porque chegaríamos em Santana sãs e salvas - afinal, para duas mocinhas do interior, o desconforto de andar por SP de madrugada é inevitável.


Metrô 5
Estação Sé fora do horário de pico: poucos passageiros na plataforma.

Chegamos na estação Paraíso às 0h30min. Durante a semana, faço esse percurso em exatos 3 minutos... mas tudo bem, afinal, neste horário a quantidade de trens em circulação é menor. Pois que esperamos mais uns quinze minutos quando anunciaram...

"Atenção... não existem mais carros indo para a estação Tucuruvi. Atenção, NÃO existem mais carros indo para a estação Tucuruvi."

Pânico. Procuro um funcionário, que me diz "quando você embarca depois da meia noite, não dá para garantir". Surtei. Como assim ninguém fala nada na hora que você embarca? Sempre achei que, uma vez lá dentro, era garantia que chegaríamos no destino. E achei a justificativa de extremo desrespeito.

Resultado: peguei o metrô de volta pra estação Consolação... inconsolável. E, de lá, peguei o último ônibus até a minha casa. Frustrada, R$ 2,55 mais pobre e o pior: decepcionada com o Metrô, que até então de mim ganhava tantos elogios rasgados.