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segunda-feira, 30 de maio de 2011

É proibido proibir

No dia 21 de maio aconteceu em São Paulo a Marcha da Maconha - cuja dura repressão policial foi relatada por alguns dos principais veículos de mídia no país.

Este final de semana aconteceu a Marcha pela Liberdade de Expressão, em resposta à primeira proibitiva.

Enquanto a primeira reuniu cerca de 500 pessoas, a segunda mobilizou 2 mil. Desta vez, sem represálias - muito pelo contrário. Após a Justiça soltar uma liminar na véspera que proibiria o ato, a PM se posicionou a favor e a CET interditou duas faixas em prol dos manifestantes.

Para mim é tão evidente. Continuem reprimindo e contendo questionamentos para, cada vez mais, atrair mais manifestantes. Afinal, é proibido proibir. O estado democrático de direito permite questionar qualquer coisa, segundo Túlio Viana, professor da UFMG, que em palestra na última sexta-feira traçou paralelos lindos com a justiça dos EUA e da Europa.

Estive neutra na concentração da primeira marcha em busca de registros fotográficos e o que me impressionou é retratado nas duas imagens abaixo. A primeira, a ação do Choque da PM para impedir que as pessoas caminhassem da avenida Paulista até a Consolação. A segunda, um  membro da Resistência Nacionalista.

Veja ampliada no meu flickr.

Veja detalhes no meu Flickr.


E, memorando o que presenciei e registrei nestes dois retratos, a única coisa que consigo pensar e defender é:

 Posso não concordar com nenhuma das palavras que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las (Voltaire)




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É isso aí. Falem o que quiser nos comentários.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A rua mastiga os homens, o asfalto, cimento

Assim um Guilherme contemporâneo releu um dos poemas do Guilherme paulista, modernista de 22 e constitucionalista de 32. E a cidade mastigada, perdida entre edifícios de concreto e vias que correm tortuosas pelo bairro do Pacaembu, esconde ali no alto da colina uma casa que transpira arte e memória. “A estrada sobe, pára, olha um instante e desce...”

Construída em 1946 na rua Macapá, era chamada carinhosamente por Guilherme de Almeida de A Casa da Colina. Longe do movimento paulistano, o aconchego do poeta e jornalista Guilherme de Almeida e sua esposa, Baby de Almeida, era cenário também dos encontros de Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Victor Brecheret e tantos outros nomes modernistas da São Paulo de 1922. Nomes ainda vivos nas paredes das salas, em pinturas deslumbrantes. Ou em livros nas estantes, empoeirados, que guardam em si a literatura rabiscada de memória. "Quase todos os livros têm anotações do Guilherme", confessou a bibliotecária.


Guilherme de Almeida observou a cidade chegar perto. Em um dos seus textos, descreve com melancolia o aproximar das pessoas, das britadeiras, do asfalto, cortando o sossego do seu espaço na colina. Hoje, tombada pelo patrimônio histórico nacional, podem vir britadeiras e asfaltos que a casa continuará intocável, aberta para olhos curiosos nas visitas guiadas de terça a domingo. O espírito e a atmosfera é tão intensa que, a cada corredor, é como se Guilherme fosse abrir a porta e chamar alguém.

Ele foi o príncipe dos poetas, título este dado a apenas um escritor por geração - não coexistem indivíduos com tais títulos. Sensível, ganhava a vida escrevendo crônicas para O Diário de São Paulo e fazendo traduções de obras literárias. Em 1932, participou ativamente da Revolução Constitucionalista. Preso e exilado em Portugal, voltou ao Brasil e morreu em sua casa.

Hoje repousa no Obelisco do Ibirapuera, junto de outros constitucionalistas. Os dizeres ali chanfrados são de sua autoria, assim como o hino ao Estado de São Paulo. Se é lembrado? Pouco. Mas memórias e lembranças, muitas, estão ao alcance de quem quiser ver.




Casa Guilherme de Almeida
Rua Macapá, 187 - Pacaembu



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Vale muito a visita. MUITO. Com exceção da foto do poema,
todas são de minha autoria em uma oficina de fotografia da Bella Valle 
que participei lá no último final de semana. 
O local promove atividades culturais em torno da obra do escritor. 
A última foto foi minha preferida e ilustra o texto "Escada da Minha Mansarda",
cujo trecho reproduzo aqui.