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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A cidade não para



Já era meia noite. Não fazia frio, mas os pelos de seus braços se arrepiavam só de lembrar seu nome. O gosto amargo da lembrança de tudo que viveu e um dia foi esquecido. Ela só conseguia lembrar. Sabia que era impossível esquecer.

Em meio a tanto desgosto viu turistas fotografando ao lado de marcos que, para ela, eram irrelevantes. Ergueu os olhos e apenas desejou que o ônibus passasse... Que o tempo parasse, que talvez voltasse, e apagasse o que ela havia visto. Ou talvez que os carros que corriam nas quatro faixas fizessem jus ao nome da rua e levassem embora tudo que ela não conseguiu deixar para trás. Consolação.

Os ônibus estavam atipicamente cheios. Todos (ou quase todos) vestiam preto por diversão, enquanto para ela, era luto. O seu mundo estava de luto. E ela nem conseguia mais chorar.

Entrou no ônibus que fedia o suor dos que pulavam no show de rock. Conseguiu um banco e sentou, recostou a cabeça e ouviu os comentários sobre a banda. Empolgante. Incrível. Animal. Alguns minutos à frente, o cheiro aumentou. Dessa vez os sambistas que ensaiavam no Anhembi fizeram do ônibus um balaio de gatos - rock e samba, que ritmo dá? Colocou os fones e tentou cantarolar.

As batidas que ouvia eram do seu coração. Na madrugada de um domingo movimentado, em uma São Paulo agitada, ela desceu, abriu a porta, jogou todo o peso no chão. Deitou e dormiu o que seria um sono leve.


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Voltei! Mais poética e lírica que nunca...
São Paulo me inspira.

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