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sexta-feira, 13 de maio de 2011

A rua mastiga os homens, o asfalto, cimento

Assim um Guilherme contemporâneo releu um dos poemas do Guilherme paulista, modernista de 22 e constitucionalista de 32. E a cidade mastigada, perdida entre edifícios de concreto e vias que correm tortuosas pelo bairro do Pacaembu, esconde ali no alto da colina uma casa que transpira arte e memória. “A estrada sobe, pára, olha um instante e desce...”

Construída em 1946 na rua Macapá, era chamada carinhosamente por Guilherme de Almeida de A Casa da Colina. Longe do movimento paulistano, o aconchego do poeta e jornalista Guilherme de Almeida e sua esposa, Baby de Almeida, era cenário também dos encontros de Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Victor Brecheret e tantos outros nomes modernistas da São Paulo de 1922. Nomes ainda vivos nas paredes das salas, em pinturas deslumbrantes. Ou em livros nas estantes, empoeirados, que guardam em si a literatura rabiscada de memória. "Quase todos os livros têm anotações do Guilherme", confessou a bibliotecária.


Guilherme de Almeida observou a cidade chegar perto. Em um dos seus textos, descreve com melancolia o aproximar das pessoas, das britadeiras, do asfalto, cortando o sossego do seu espaço na colina. Hoje, tombada pelo patrimônio histórico nacional, podem vir britadeiras e asfaltos que a casa continuará intocável, aberta para olhos curiosos nas visitas guiadas de terça a domingo. O espírito e a atmosfera é tão intensa que, a cada corredor, é como se Guilherme fosse abrir a porta e chamar alguém.

Ele foi o príncipe dos poetas, título este dado a apenas um escritor por geração - não coexistem indivíduos com tais títulos. Sensível, ganhava a vida escrevendo crônicas para O Diário de São Paulo e fazendo traduções de obras literárias. Em 1932, participou ativamente da Revolução Constitucionalista. Preso e exilado em Portugal, voltou ao Brasil e morreu em sua casa.

Hoje repousa no Obelisco do Ibirapuera, junto de outros constitucionalistas. Os dizeres ali chanfrados são de sua autoria, assim como o hino ao Estado de São Paulo. Se é lembrado? Pouco. Mas memórias e lembranças, muitas, estão ao alcance de quem quiser ver.




Casa Guilherme de Almeida
Rua Macapá, 187 - Pacaembu



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Vale muito a visita. MUITO. Com exceção da foto do poema,
todas são de minha autoria em uma oficina de fotografia da Bella Valle 
que participei lá no último final de semana. 
O local promove atividades culturais em torno da obra do escritor. 
A última foto foi minha preferida e ilustra o texto "Escada da Minha Mansarda",
cujo trecho reproduzo aqui.

3 comentários:

Guilherme disse...

Sou fã do teu blog, tua escrita é linda. E não é só porque o meu nome apareceu aí não hein...rs

Lydia disse...

liiindo, gabi... esse poema do final, incrível. quero conhecer esse lugarrr...

Eduardo disse...

Oieee, Faz um tempinho já né? rsrsrs....Apesar de eu não curtir muito poesias o que post ficou bem bacana....

Bjs,

Duh