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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Papo de Táxi

- Boa noite! Vamos pra Santana, certo? Qual caminho a senhorita prefere fazer?

- O mais rápido... que, a essa hora, é o mais curto.

- Então é pela marginal... você trabalha aí?

- Não... vim fazer uma entrevista.

- Ah, então você vai trabalhar aí!

- Não, eu sou jornalista.

- Vai passar na TV, então?

- Não, é pra internet.

- Eu não gosto de internet. Minha filha que gosta, ela mexe e fala com o irmão que tá no Canadá... eu não entendo, sabe, acho bobeira.

Seu Cláudio tem um filho de 28 anos que há 11 está em Vancouver. Primeiro, foi pra estudar, mas acabou encontrando um emprego, se deu bem e ficou por lá. Pagou 10 mil dólares para casar com uma canadense e conseguir o visto permanente. Eles fazem muito disso lá também? "Quem tem dinheiro faz". E, durante esse tempo todo, não deixou o grande amor da vida dele - a namorada brasileira, que foi morar com o jovem há uns sete anos, e por causa disso não foi ao enterro do pai no Brasil.

- Mas ele vem para cá em dezembro, vai casar com a noiva brasileira e fizeram questão de que fosse aqui, sabe?

- E o senhor não vai para lá?

- Não, de jeito nenhum... ainda tenho minha mãe aqui, eu gosto daqui, não saio daqui por nada.

- Nem pra passear?

- Ah, tenho medo de gostar né? E ficar por lá. Aí que está o perigo!

- E a saudade?

- A gente aguenta....

- E a mãe dele, saudade de mãe dizem que é mais forte, né?

- Minha esposa faleceu... faz muito tempo, ele era criança ainda, foi câncer. Mas eu casei de novo. Minha sogra mesmo falou que quem morreu foi a filha dela, não eu. Aí que eu tenho duas sogras! Mas a sogra do meu segundo casamento tem cara feia, não fala, não é que nem a primeira, sabe? Mulher brava!!! Tão bravo quanto meu pai. Meu pai era espanhol.

Seu Cláudio tem seis irmãos. Seu pai, espanhol, deu carro e casa a todos quando fizeram 18 anos. Menos a seu Cláudio e o outro irmão, porque eles eram mais velhos e tiveram que ralar um pouco mais. "Mas eu não reclamo não... cuido dele até hoje. Amor e respeito nunca faltaram, e ele me ensina muita coisa".

- Não reclamo da vida... quero logo que meu filho venha pra eu vê-lo. Não gosto de internet, câmera, não é a mesma coisa... só fico feliz por ter isso porque se não fosse a internet minha filha, que é do segundo casamento mas o considera como irmão, não ia lembrar dele. Eles se veem todo dia e isso é bom... tenho uma família feliz. Trabalho até às cinco da manhã e minha filha vai me encontrar com um beijo. Ela vai pra escola e eu durmo... gosto de trabalhar com táxi. Eu trabalho enquanto ela dorme, e vivo no resto do tempo.

Com certeza, seu Cláudio. O senhor vive.


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Adoro papo de táxi. A volta da Rede Bandeirantes
até minha casa demorou 40 minutos e custou R$ 87.
Passou como se fossem só 15 minutinhos.

5 comentários:

Bel disse...

Amei, Gabi! Deu pra eu me identificar demais com a historia!

João Ricardo disse...

Ela contou essa história toda pra te distrair, enquanto pegava o caminho mais longo.

stripolias disse...

verdade, não tinha pensado nisso... ¬¬

Leonardo Xavier disse...

Realmente, eles são pessoas interessante em geral, andam muito conversam com muitas pessoas. Eles sabem fazer bons retratos da paisagem urbana.

Unknown disse...

Esses papos de táxi dariam um belo livro, não?